domingo, 28 de outubro de 2012

TEATRO/CRÍTICA- O DORMINHOCO




Ricardo Schöpke
Crítico de teatro, encenador, ator e cineasta

Na vida, atuamos durante todo o tempo. Vivemos cobertos por inúmeras máscaras sociais. Assim, o teatro é um lugar onde devemos simplesmente ser. Onde todas as máscaras devem cair. Este é um dos mais importantes princípios do encenador polonês Jerzy Grotowski, desenvolvidos durante anos de pesquisas e laboratórios na Polônia e Itália. Poucos homens de teatro, no século XX, conseguiram traduzir com tanta síntese e sabedoria as artes cênicas e o ofício ator. O teatro essencial. O ator como maestro absoluto. O ator como um arquiteto da cena, onde as ferramentas principais são o seu corpo e a sua voz - e a multiplicidade de possibilidades que extraímos destes dois poderosos instrumentos.

Poucas cias no Brasil, incluindo aí o teatro adulto, têm um trabalho tão diferenciado e peculiar como o da curitibana Cia do Abração. A Cia do Abração respira e transpira teatro essencial. Ela vive arte durante todos os seus dias. Como uma verdadeira família teatral, ela forma, informa, ensina, acolhe, abraça, vive, representa e apresenta pequenas jóias sobre o universo da criança de todas as idades, que habita dentro de nosso mais profundo ser. E esse é o ser que dialoga com o "ser" de Grotowski. Após o terceiro sinal, o espetáculo se inicia, entretanto com a Cia do Abração, a sensação que temos é que neste momento uma imensa caixa de surpresas é aberta, e somos todos convidados a entrar em um mundo mágico, nunca antes habitado e aparentemente inatingível. É assim que nos sentimos, mais uma vez, com a nova criação da Cia: O Dorminhoco, apresentado na terça-feira, no Teatro Guairinha, dentro do IV Pequeno Grande Encontro de Teatro para Crianças de Todas as Idades . O Dorminhoco - inspirado no livro homônimo de Cleo Busato -  é assim chamado na escola, porque adora sonhar. Por meio dos seus sonhos fantásticos, ele vai aprendendo a se conhecer melhor. Entre uma professora chata e colegas que cismam em implicar com ele. O Dorminhoco fala sobre os seus sonhos fantásticos, a experiência do primeiro amor e a dificuldade de se relacionar na escola, por ser diferente da maioria dos alunos. 

Como em uma grande tela de pintura, a direção de Leticia Guimarães, vai pintando e desenhando todos os movimentos, construídos com grande precisão melimétrica diante de nossos olhos encantados. O espetáculo começa em preto, branco e cinza e aos poucos o palco vai sendo inundado de cores, objetos geométricos circulares, em tamanhos pequenos, médios e grandes, que vão tomando vida e forma através da exímia manipulação dos atores, mérito também da coreografia refinada e precisa de Fabiana Ferreira. A sonoplastia de Karla Izidro nos faz flutuar com tamanha leveza, e ao mesmo tempo é curiosa, pois parece ser inspirada claramente no famoso grupo da Inglaterra Stomp, que em inglês quer dizer batidas de pé. É colocado em cena latões de lixo, bem característicos do famoso grupo, e os atores fazem algumas percussões com batidas de pé, além da personagem da professora, que entra em cima de duas latas de tinta, criando sons e movimentos pesquisados pelo Stomp. É difícil falar de cada uma das preciosidades que compõem o universo criado em cena pela Cia, pois todas elas são essenciais e se complementam: o cenário funcional e móvel de Blas Torres, os figurinos de base preto e branco, com detalhes multicoloridos de Eduardo Giacomini, a luz muito bem desenhada de Anry Aider, o belo teatro de sombras, e as oficinas de preparação técnico/artísticas. No elenco se destaca a experiência e domínio técnico de Simão Cunha, e o restante dos atores, talvez por ser a formação mais jovem da Cia, apesar de sua grande entrega e empenho, ainda não encontraram o tom exato de suas personagens, mas tenho certeza que em um futuro próximo isso será possível. Acredito em todos eles! Os mesmos são também bichos de teatro. São da família Abração!


sábado, 28 de julho de 2012

TEXTO CILENE TANAKA -

Um galpãozão no Jardim Social. Não estou habituada à grama verde, aos pássaros cantando, muito menos ao silêncio demasiado que me permite ouvir mais a mim mesma do que seria exigido pela sanidade.
A porta imensa, tipo castelo medieval infantil, é aberta pelo calmo senhorinho.
Sinto-me uma princesa, só que de ressaca – não deveria ter bebido ontem. Ressaca, fome e espetáculo infantil, onde já se viu?
O Dorminhoco...a dorminhoca sou eu: em jejum há muitas horas devo dormir o sono eterno em poucos instantes. Começa logo, começa. E o galpãozão tem cheiro de sebo.
Mas, olha! É um sebo! Tem o Stardust em vinil, tem muito livro e um cheiro bom.
A diretora da peça chegou e, podre, converso. Ela fala, fala, e meus olhos, não sei porque, se enchem de água. O espetáculo começa depois dela que, como o sertanejo, é uma forte.
Aliás, que lugar de sertanejas a Cia do Abração. Só é mesmo possível oferecer o que temos para dar. Este nome não é a toa.
Não há cortina e dois atores equilibram-se sobre tambores de lixo. Meus olhos encheram d´água, mas credo! De novo? Deve ser saudades da minha infância.
Eu e meu primo brincando de morcego. A gente se pendurava na balança e sempre caía de cabeça no chão.
Mas a gente ria. Ria muito. Mesmo com dor, a gente ria muito da idéia de um morcego incompetente que cai de cabeça quando se pendura onde quer que os morcegos se pendurem.
Vejo uma menina sendo o dorminhoco que, segundo uma pobre referência, sofre bulling.
Mas é muito mais que isso, é tudo muito mais. É uma aura instaurada de lirismo, de sonho, de infância projetada.
O figurino colorido e a coreografia perfeita dos quatro em cena.
Claro que era número par, nada ali é dividido de maneira que não seja simétrica. E não é assim que se ensina? Pode ser que não, mas eu não queria aprender. Mas tampouco sou criança. Mentira. Sou a dorminhoca da peça. O menino que só tem por compania seu livrinho.
Ah! Já saquei! É a estrutura dramática em que o menino é vítima e depois tudo se resolve num final feliz. Olhos cheios d´água.
Credo, porque estes olhos tão lacrimejantes? "É para ver melhor" - diria meu Lobo Mau interior.

Estou muito sensível ultimamente. Nada a ver este choro agora. Olha lá, os meninos roubaram o livrinho do Dorminhoco, seu único amigo.

Mas será que esta estrutura é o máximo que podemos alcançar, mesmo que em termos de espetáculo infantil? Credo, não para de encher meu olho d´água. Que tá acontecendo?
É claro que tememos a incompreensão das crianças, se não lhes oferecermos uma estrutura conhecida, talvez elas não se envolvam, mas será? Meu olho, de novo. Não estou habituada a este olho cheio de lágrima. Não estou habituada a isso.
Ainda mais em se tratando de tema onírico, o espaço da criação livre do inconsciente é muito maior que o arco da estrutura dramática. Não estou habituada a isso. Não estou.
E quando o menino fala com os pais que, coadjuvantes, falam gramelão. Olhos cheios, cheios.
Olha! Um leão! Como faz isso? Teatro de sombra e olhos cheeios d´água. Mas porque tanto choro? Saudades da minha infância, deve ser. Nossa, mas é tão lindo. Essas cores, essa música, tudo.
Os meninos terríveis, porém sorridentes, que lhe roubam a dignidade mas não o potencial.
O dorminhoco vai se tornar filósofo pobre, ou ator favela e os “terríveis” potentes executivos.
E quem disse que os terríveis vão ser mais felizes? Eu. Eu digo que ser executivo aumenta tua probabilidade de ser feliz.
Mas também digo que diminui a necessidade da tua existência no mundo.
Eu prefiro os infelizes. Mas voltemos ao dorminhoco que é mais bonito.
E tinha uma trilha, confesso ter temido quando eles começaram a cantar, mas...olha, cantam bem! Cantam muito bem. 
Cantam lindamente!
Aquele sorriso exagerado me incomodava um pouco, um sorriso colgate que ninguém verdadeiro tem e meus olhos, de novo, cheios d´água. Mas porque isso agora? Estou muito sensível hoje. Deve ser a fome.
O cenário, e o cenário! Que lindeza! A professora chega e...Bu! Acorda O Dorminhoco: “que ce tá fazendo, menino? Acorda!
Tadinho. A professora que ajudava na trilha com o batuque de suas latas de sapato e seus óculos de bexiga.
Como pode? Como pode mostrar maldade com bexiga laranja nos olhos? É outro mundo mesmo...não adianta tentar entender.
Olhos d´água e melancolia são tudo o que podemos oferecer.
É tudo parte de um conjunto muito bem idealizado e realizado de coisas a mostrar não a dizer.
Tem que ver, tem que sentir o cheiro, tem que. Olhos d´água de novo. Não sei o que está acontecendo comigo. Pode ser a minha crise. Tenho estado chorosa há já um bom tempo.
A professora, aquela que tinha os óculos de bexiga, na verdade não é tão má assim. Sob outro ponto de vista, os óculos de bexiga viram borboleta da bondade.
E pousam sobre as costas da professora, delicadamente. 
As escolas que estão na platéia acham aquilo tudo estranho.
Tá. Tá bom, não tenho como saber se eles acham aquilo tudo estranho. Eu os acho estranhos. Eu acho criança de uma estranheza só superada pelos adultos.
Não param de se mexer, mas quando falam (o que não é tão frequente quanto se espera de crianças de 8 anos) fazem-no baixinho, no pé do ouvido do coleguinha ao lado. E falam sobre a peça.

Falam sobre a roupa, sobre a professora, sobre os meninos maus.
Tá.Talvez não falem sobre a peça, não posso ter certeza porque, apesar de meu esforço, não conseguia ouvi-las.
Mas prefiro acreditar que sim. Que falavam daquele encantamento todo e que se lembrem disso até depois, quando já não lembrarem.
A lágrima vai cair. Odeio quando a lágrima cai. Se fica só no olho, ninguém percebe, mas quando cai não tem disfarce.
Lembro do meu amiguinho contando aos seus: daí formou um lagrimão! E eu não piscava para ele não cair.
Mas deixei juntar bastante água e daí quando eu pisquei caiu um lagrimão bem grande e escorreu bem rápido pelo rosto inteiro.
Não estou habituada ao lagrimão escorrendo. Não estou habituada a isso.
No final, o menino pergunta aos atores o que é Peribéia, nome da professora dito somente uma vez no decorrer da peça.
E no final eu até esqueço o começo, quando a platéia buscava seus lugares e a inconsciente professora real deu um chacoalhão real na dorminhoca real para que ela sentasse logo na dura realidade.
O Dorminhoco saiu de Curitiba e agora vai para um Festival em Guairinha.
Se você quiser saber mais sobre a peça, veja a sinopse e maiores informações clicando aqui.
E se quiser mais informações sobre a Cia do Abração, para levar O Dorminhoco para sua escola ou algo do gênero, veja o site da Cia do Abração.

CILENE TANAKA : GAZETA DO POVO > Teatrofagia






quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nem tudo é o que parece ser...


Nem tudo é o parece ser. Essa frase diz muito sobre O Dorminhoco. O que é realidade? O que é sonho? Será que não estamos sonhando o tempo todo? Tudo depende do ponto de vista. Se o sonho é algo que construímos, porque não construir uma vida real cheia de sonhos? É isso que nós da Cia. do Abração estamos construindo, mais um SONHO bem saboroso, repleto de questionamentos, que nos alimenta, acorda, ilumina e, sobretudo, adoça nossas “vidas reais”.

Simão Cunha

terça-feira, 19 de junho de 2012

De onde surgem os meninos malvados?

Fico tentando relembrar os momentos em que meninos malvados para na minha ou quando fui/queria ser um deles. Eu os via como pessoas que "se enquadram", que tem muitos amigos, que acham divertido humilhar os outros e que só viram "gente" quando alguém "maior", física ou autoritariamente, se impõe.

Hoje acho que essas pessoas devem ser muito miseráveis, devem sofrer tanto por serem "formatados" que precisam humilhar quem foge do padrão para se sentir menos medíocre.

Se eles não podem fugir do sistema porque esses "estranhos" podem? NÃO PODEM, NÃO DEVEM! E para isso é necessário uma lição, um corretivo naqueles "desiguais", para que eles saibam que precisam reaprender a ser "normal".

Ninguém se importa com as suas vontades, você NÃO tem o direito de ser muito magro, muito gordo, desengonçado, "burro", inteligente, desligado, quieto, efusivo ou sonhador. Toda pessoa tem direito a sua individualidade desde que ela seja I-N-D-I-V-I-D-U-A-L! Quer ser estranho? seja quanto estiver sozinho, curtindo a sua individualidade.

Que triste isso. "Chega dessa ditadura velada!", deveriam dizer os diversos Dorminhocos do mundo, mas eles tem medo, tanto medo que podem acabar se tornando iguais a esses meninos, afinal de contas esse "sistema" já está em vigência há muito tempo nesse mundo. Mas peraí, o avanço é feito por dorminhocos. São os Dorminhocos que tem as ideias mais "absurdas" e enfrentam o mundo formatado para que essas pessoas vivam em um mundo melhor, para que esse mundo melhor, seja um mundo onde não é um problema ser um Dorminhoco, para que mais Dorminhocos possam viver nesse mundo.

Um menino malvado é apenas um Dorminhoco que tem medo de sonhar, alguém que não tem força e coragem o suficiente para fugir do padrão e acaba se consumindo pela tristeza, pela inveja, pela raiva de quem ainda resiste a essa tirania e tenta mudar o mundo. Bem que os Dorminhocos poderiam juntar essa "imponência" dos meninos malvados a sua força de sonhar, quem sabe assim todos possam ser normais sem aspas de ironia?

segunda-feira, 18 de junho de 2012


Embalados na construção de mais um sonho em comum, superando dificuldades, amadurecemos desfrutando desta doce e amarga experiência. O aprofundamento da experiência artística é misto de dor e prazer. Cada um de nós tem a chance de resistir revelando o amor que nutrimos por essa arte milenar, o teatro. Resistir bravamente buscando o inebriante encantamento provocado pela fruição ator plateia de uma obra teatral.
Tema recorrente na dramaturgia investigada pela Cia do Abração o Sonho e a figura do Sonhador nos inspira. Falar de sonhos nos parece uma missão, uma bandeira que orgulhosamente empunhamos construindo um mundo próprio, quase invisível. Que a leveza do sonhador possa nos contagiar, embalando nosso dia a dia, tornando a vida mais leve.
Que o mundo possa ter cada vez mais Dorminhocos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Nossos ensaios estão de "vento em popa". Falta um pouco mais de um mês para a estréia e nossas musicas já estão a maioria encaminhadas, nosso cenário já está sendo construído, tudo vai bem. É muito bom saber que "O Dorminhoco" será mais um filho bonito, saudável e que nos trará muitas alegrias. EVOÉ! 








quarta-feira, 13 de junho de 2012

As facetas do Dorminhoco

Na primeira semana dos ensaios de criação, os atores desenharam como imaginavam o seu dorminhoco. A missão era fazer cinco desenhos que demonstrassem as facetas da personalidade do nosso personagem principal, o Dorminhoco. Segue os desenhos de cada um:

Dorminhoco segundo João:

Dorminhoco segundo Julia:

Dorminhoco segundo Kamila:
Dorminhoco segundo Simão:



terça-feira, 29 de maio de 2012

Esse ser artista

Então, o artista é quase que um pecador, porque ele se mistura com Deus e quer, da mesma forma que Deus, criar novos mundos. E se não houvesse esses artistas criando novos mundos, Deus, que só fez um, nos obrigaria a viver nesse já insuportável (há séculos insuportável). E se não fossem os artistas, nós não teríamos o nascimento de sempre novos mundos.



Cláudio Ulpiano - A estética Deleuziana

Autonomia

É a palavra da vez. Sem nenhuma prolongação de i's. Assim, simples como ela é. Autonomia.
Em um grupo jovem, universitário e com pouca experiência é fácil cairmos no processo professoral, aonde alguém lhe diz o que fazer e como fazer e então você faz e esta pessoa vai dizendo se está bom ou não. O trabalho do ator em um grupo de criação é bem diferente. A diretora não é sua professora. Voltando a falar de tintas e cores, a diretora é um pintor de telas, sem as cores e as tintas é impossível pintar, e se ela tiver que fazer as cores o processo demora o dobro, o triplo. Vai de você trabalhar para criar essas cores, criar um corpo, criar repertório. E isso ninguém pode fazer por você, ninguém. Por mais que você esteja correndo em grupo ou fazendo exercícios em grupo, é um trabalho interno. Você corre sozinho, sozinho no mundo inteiro, em 510 milhões de km², em 7 bilhões de habitantes do planeta, você está sozinho consigo mesmo, seus pés e o asfalto que seus tênis de corrida tocam. E você tem que ir além de si, extrapolar-se no sentido de desacomodar-se.
Mas ainda assim é uma autonomia em grupo, pois não é pensando em você mesmo, mas em algo maior, em um grupo. Ser desleixado com você mesmo é ser desleixado com o grupo, que conta com sua disponibilllidade, com seu corpo pronto para pintar a imagem que a diretora quiser ver na tela, que é o palco, que é sagrado.

Para mim, é a palavra que vai reger o trabalho dessa semana, das próximas, veremos. Pois não basta disponibilidade, é preciso prontidão.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Processo de Criação de “O Dorminhoco” por Simão Cunha.



O processo de criação para o espetáculo “O Dorminhoco” tem sido muito significativo para mim. Desde quando fizemos a vivência das técnicas do teatro físico com o Wal Mayans ando me questionando sobre o meu trabalho como ator, como arte-educador e como integrante de um grupo de pesquisas cênicas. Talvez a definição mais lógica sobre alguém que segue um mesmo trabalho há cinco anos seria o conforto, porém o desconforto está falando mais alto. Minha vontade de amadurecer é muito grande, e sinto que estou conseguindo, mas amadurecer é um desconforto constante. Quanto mais certeza eu tenho do que faço e do que quero fazer, mais dúvidas eu tenho se o que eu faço é mesmo um bom caminho para trilhar.
É a primeira vez no grupo que eu não sou o ator mais novo. É a primeira vez num elenco que sou o mais experiente e talvez essa responsabilidade esteja me exigindo outro posicionamento. De alguma forma, foi sobre isso que conversamos na vivência com o Wal Mayans, sobre a autonomia, um questionamento constante nas minhas reflexões. E todo esse questionamento não é ruim, muito pelo contrário, acredito que para fazermos um trabalho realmente bom e eficiente devemos sempre nos questionar e revisitar as nossas ideologias e vontades para não nos cegarmos no meio do caminho e perder o rumo.
                De alguma forma o tema da autonomia, discutido muito na vivência com o Wal Mayans, permeou e permeia no processo de criação. Na oficina de mascaramento com o Roberto Innocenti, nas experimentações com as bolas e latões com o Deferson Melo, nas oficinas de acrobacia e circo da Luthy de Milano e nas conversas e direcionamentos da diretora, Letícia Guimarães. Somos artistas, é preciso saber o que queremos dizer com o nosso trabalho e, acima de tudo, fazer o nosso trabalho realmente ser NOSSO. E essa alerta fica mais clara quando o trabalho é apresentado às crianças e elas sentem que os atores sabem o que estão fazendo ou falando. Aí sim o que fazemos parece fazer sentido (em todos os sentidos) em nós, atores pesquisadores.
                Passaram apenas quatro meses de pesquisa, descobertas, crises e gozo, mas já parece uma eternidade. Muita coisa aconteceu. Já rimos, choramos, discutimos, brincamos e crescemos. A dramaturgia já está esboçada, uma releitura singela e bastante significativa do livro “Dorminhoco” da Cleo Busatto. Algumas músicas da Karla Izidro já começam a embalar o nosso sonho, parece um conto de fada. Agora começa uma nova fase, o REFINAMENTO, uma hora parecerá que nada vai dar certo, mas no fim tudo fará sentido, pois trabalhamos, pensamos e discutimos (e muito) para isso. E será LINDO.
Por enquanto quero agradecer a todos os meus companheiros de VIDA: Letícia, Fabiana, Blas, Karla, Julia, João, Kamila, Wal, Roberto, Denize, Deferson, Eduardo, Luthy, Guga e Cezar. NOSSO sonho está apenas no começo e vamos sem pressa amadurecendo e respirando a NOSSA arte, porque o tempo é NOSSO.

domingo, 20 de maio de 2012

O pró-cesso


A Oficina com Wal Mayans

                Iniciamos este processo em fevereiro, com uma oficina de Wal Mayans, de 10 dias. Dez dias de descobertas. Assim como previsto pela Letícia, a oficina deu um gás para o início dos trabalhos, energizou, unificou e motivou o grupo, encantados com o trabalho com um mestre. Foram 10 dias intensos, emocionantes, sofridos. O trabalho do Wal mexe com as estruturas fragilmente acomodadas de nós mesmos, há um confronto brutalmente delicado, não apenas com nossas limitações físicas, evidenciadas nas dores musculares que nos visitavam à noite, mas de maneira mais profunda nos truques sentimentais e psíquicos que nos damos, quando achamos que somos fortes, e pior, quando nos convencemos de que somos fracos. E então somos surpreendidos com o confronto com nossas capacidades, e nossas desculpas caem por terra. As máscaras que colocamos nos joelhos operados, nos corações frágeis, nos pulmões congestionados, nos muitos anos pesando, nos supostos não-consigos, tudo é desmascarado, e temos que encarar o fato de que sim, conseguimos. Acabam-se as desculpas para o não mais tentar. E isso te dá gás. Ou te derruba. É preciso encontrar, então, a coragem, que essa sim precisamos encontrar: coragem para ser o que podemos ser.
               Com o trabalho físico aprendemos a fazer mais combinações com nossas cores, que com algumas primárias e outras secundárias, cada um com o tom que puder, temos uma paleta maior que apenas o arco-íris. Trabalhos com equilíbrio, com bastões, com pinturas, com voz, com latões, com bolas, com água, e que retirando todos esses objetos, acrescentando outros, criamos no final das contas, belas cenas. Isso foi uma das coisas que mais me surpreendeu, a delicadeza e sensibilidade de Wal Mayans em transformar simples sequencias de movimentos, que inicialmente não possuíam intensão nenhuma, em cenas tocantes. De exemplo, uma cena criada a partir das sequencias de direções do Simão e da Denize, ao som baixinho da voz dela cantando Asa Branca, acrescentando Deferson e João marchando de um lado para o outro, resultou em uma emocionante cena de guerra, de um pai tentando proteger sua filha, que se perde em meio às bombas e inocentemente pede um chocolate a um soldado, que a mata com um tiro. Este foi apenas um dos materiais que descobrimos possuir, cito outras cenas: um velório de uma mulher desesperada, um marido infiel e um filho tentando consolar a mãe, que após terminar este rito, se renova com a água para uma outra vida; uma mulher que espera tanto por outro, que final das contas esperava mais pela própria espera, e não o via chegar ao seu lado; uma igreja fervorosa, com um pastor pregando as palavras da Bíblia e realizando exorcismo de uma mulher, e nesta cena Fabiana nos deu uma belíssima sequencia coreográfica, nos dando mostra de seu repertório corporal de mais de 20 anos de exercício de movimentos corporais. 
Nestes 10 dias criamos material que ainda estamos explorando, e criamos ainda mais. Mas mais difícil do que criar material, é seleciona-lo.


Cria-ção
                
        Após definirmos o pré-roteiro começamos então a criar as cenas, a peça. E aí foram muitos jogos, muitas brincadeiras, buscando este estado criança, que particularmente me é um tanto quanto difícil de me disponibilizar para. Terapias à parte, ainda quando criança (típica frase de início de terapia...)eu era muito individualista, gostava dos esportes individuais, dos trabalhos escolares individuais, dos jogos que eu poderia jogar sozinha, do meu quarto de filha (até então) única, meu quarto com meus brinquedos, em que eu poderia fazer o que eu quisesse sem ter que lidar com a inconveniente vontade dos outros de também fazer o que queriam.  E agora, por mais irônico que pareça após esta descrição, faço parte de um grupo. Um grupo, no sentido mais colaborativo possível, em um sentido quase incompreensível para quem não faz parte deste mundo, em um nível mais que familiar. E com este contraste me vêm a vontade de fazer parte disso, de, afinal, me agrupar, fazer parte de algo além de mim mesma, pois eu por eu mesma não faria é nada, devido ao irremediável fato de que o que eu fizer apenas por mim vai morrer junto comigo. E então, para mim, define-se: eu quero ou não quero. Eu quero.
                E aí vem a primeira parte da criação, de improvisações, para ter material para as cenas. Para mim era difícil confiar na diretora, de que aquelas tardes e tardes e tardes [...] e tardes de improvisações resultariam em alguma coisa, qualquer coisa que fosse, não precisava nem ser uma peça. Aí vem a parte de acreditar no grupo, acreditar no trabalho de todas estas pessoas unidas para um objetivo e se dis-po-niii-bii-lii-zar para a criação. De novo, difícil. Apesar de todos os toques, apesar da familiar voz me dizendo “o primeiro passo é mudar a energia e o humor”, era difícil, E não ficou fácil, passei por esta etapa aos trancos e barrancos. Tenho fé de que seja uma dificuldade inicial, resultado da falta de experiência, de vivência, e principalmente na falta de prática nessa tal coisa de grupo. Afinal, no individual é tudo mais fácil, e ficamos mal acostumados em não ter que enfrentar dilemas, não ter que enfrentar confrontos, ninguém nos vê chorar, ninguém faz questão de saber o que você pensa e sente, muito menos isso faz parte do trabalho. Mas afinal das contas, dois meses de diiiis-poo-nii-bii-lii-zação da equipe e conseguimos então, uma peça, com início, meio e fim
                Esta é a atual fase do processo, de organizar os esboços, tirar e acrescentar elementos deste esqueleto chamado “O Dorminhoco”. Agora após todo aquele turbilhão de improvisações e criações, chega a hora do desapego. Algumas de suas idéias serão cortadas, e você tem que aprender a abrir mão delas, novamente, confiar na sensibilidade da diretora, e que por mais que você, paaarticularmente, não goste de tal idéia, se o Grupo gosta você não pode ser destrutivo, mas sim colaborativo, ver o lado bom das coisas, ser positivo, pois idéias novas ainda terão que chegar e você tem que estar diiiiis-pooo-ní-vel para a chegada delas.
               E elas estão chegando, lindas. Como este Grupo tem idéias lindas. O Dorminhoco está chegando, e com o seu crescimento estou aprendendo a trabalhar, pois apesar de ser uma escolha de e para vida, é um trabalho, e assim como o pintor de paredes aprende a pintar as paredes sem sujar todo o chão e o rodapé e as paredes que não devem ser pintadas, o ator também deve aprender a trabalhar sem querer ocupar mais ou menos espaço, mas mesclando seu espaço com o dos outros, e então, colorindo. É o que estamos fazendo agora, colorindo, cada um com suas cores, suas técnicas de pintura, um desenho que já tem seus contornos e deve ser agora preenchido com cores, músicas, palavras, e calor humano.


Escritos pueris. E crus.

Primeiro processo de criação teatral da atriz Kamila Ferrazzi

Primeiros passos e descobertas!

Para falar desse processo tenho que falar um pouco da minha vida, de mim. Pois é tudo tão ligado. Nossa vida, nossa arte, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossa posição, nossos ideais e nossos sonhos. Um completando o outro e assim formamos nossa vida.

A alegria é imensa, é um processo de descobertas, descobrir que é através da arte que eu quero viver, do Teatro, que tem me completado, e me mostrando um sentido para nossas vidas, um sentido de viver para fazer o bem através da nossa arte e do que temos para oferecer, sendo em um simples sorriso, um abraço apertado ou uma palavra cantada.

 Falta técnica, disciplina e muito estudo. Mas não falta amor por esse trabalho, e por cada descoberta que eu venho tendo nessa companhia. Cada ser humano que eu venho conhecendo, com suas qualidades e defeitos. Qualidades que me impulsionam para crescer, melhorar e me desenvolver, e com seus defeitos  que me mostram que são apenas efeitos especiais para que possamos nos lapidar.

Aqui é o lugar onde eu posso me expressar, chorar, amar, sorrir, gritar e cantar. Descobrir quem é a kamila, a kamila de corpo e alma. O que ela é capaz de ser e fazer. O que somos capazes de fazer juntos!  Construir nossos sonhos, ampliar nossos  horizontes e estar a serviço de algo bem maior.  Influenciar o mundo com muita ARTE!

Mas nem tudo  é cor de rosa com florzinha delicadas. Há também espinhos, pedras e as vezes até enormes plantas carnívoras que parecem que vão nos devorar. Ufa!  mas cada uma tem uma função em nossa vida.

 “ no poema e nas nuvens cada qual escolhe o que deseja ver” ( Helena Kolody).  

As vezes espinhos podem servir como nossa proteção, pedras para construir uma linda casa, e plantas carnívoras que não nos fazem mal pois comem apenas insetos.  A vida é como escolhemos ver!   Assim dorminhoco deixa a sua mensagem “ Olhe a vida com outros olhos!”.

“ sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos”. (Willian Shakespeare)

 Em meio a todas as minhas aspirações, há também duvidas crises e dias difíceis. Mas basta querer encarar que elas vão se dissolvendo e se resolvendo no decorrer do processo. Vamos encontrando caminhos e as respostas para as nossas duvidas, que encontro na nossa obra e na preciosidade de cada personagem.

Iniciamos o nosso processo com a vinda do Wal, que  trouxe muitas coisas boas para o nosso grupo. Trabalhamos durante 10 dias teatro físico.

O treinamento do Wal foi de lavar a alma, onde as gotas de suor escorridas pela chão iam nos purificando.

Precisão é a palavra do wal e minha nova busca como atriz.

Utilizamos uma  força bruta interior  mas com uma delicadeza exterior.

O ritual do teatro, tudo é sagrado. O correr de manhã para nos purificar, fazer uma roda nos ajoelhar e começar o trabalho. Fazer com mais amor. E a disciplina que devemos ter.

Preparo físico, fluidez em nossos movimentos, energia em todo o corpo, equilíbrio e entrega.

Corrida, bastão e pulos. E então partimos para a criação de cenas a partir das nossas ações físicas. Que nos deu uma boa base quando iniciamos a criação do  Dorminhoco.

O Wal nos apontou caminhos e nos deu a direção, agora é só praticar praticar praticar...  

Conclusão: PRECISO MELHORAR!

Trabalhamos também por 3 dias, com o Roberto Inocente, teatro de máscara, focando a comédia dell’ arte. Pois tínhamos a ideia de usar algum tipo de máscara no espetáculo. Trabalhamos muito com improvisação, e o  corpo de cada personagem da comedia dell’arte, a utilização da cabeça  e a expressão da nossa boca enquanto utilizamos máscaras.

Trabalhamos também com máscara neutra e as possiblidades do nosso corpo, e como nos comunicamos através do gesto.

E agora temos o esboço do nosso espetáculo! Nutrido, pela experiência do Wal, do Roberto, dos nossos grupos de estudo, filmes, livros, poesias e da experiência  de cada integrante do grupo.

Estamos construindo um espetáculo muito lindo e contagiante.

E agora com a presença da Karlinha, nossa musicista, o Dorminhoco está ganhando um toque especial.

Na oficina com a Karla, trabalhamos com estado de espirito dos personagens.

Ator é CORPO e ALMA. Se for somente corpo torna-se algo mecânico mas quando possui alma ganha vida. Se eu estou triste estou triste não finjo que estou, é o personagem que está triste e não a Kamila. Utilizamos a transposição, transpor os sentimentos que já temos conhecimento para o personagem, que ficará triste não pelo motivo que a kamila está e sim pelo motivo do personagem, por isso a importância do entendimento de cada parte da história e do personagem.  A construção de cada cena. Ai vamos dando vida ao personagem e entendendo o por que de cada olhar, de cada gesto, de cada suspiro e de cada sorriso, buscando o estado de espirito do personagem em cada momento da história. ( ainda estou no inicio dessa construção)

Vivenciar a experiência a cada momento, sentir tudo que o dorminhoco transmite, se não sentir tudo profundamente não tem por que faze-la.

Para a construção do nosso texto que ainda está em processo, tivemos como base também o livro “o que é a vida?”, um livro de filosofia para crianças, trazendo questionamentos, sobre a vida e as diferenças. Tentando mostrar um outro lado para o dorminhoco, sobre as dificuldades que encontramos no caminho. PENSAR E NOS QUESTIONAR.

Assistimos alguns filmes que nos inspiraram, Mic Mac(Direção de Jean Pierre) que podemos usufruir da sua estética e a invenção de objetos que os personagens da trama constroem, recriando inventos com sucatas e objetos aparentemente insignificante. Que é uma das propostas do nosso espetáculo, com a utilização de latas, latinhas e latões, ressignificando-os.

“Waking Life” foi outro filme que assistimos, Que faz um questionamento, se estamos feito sonâmbulos quando estamos acordados ou  estamos conscientes enquanto sonhamos?  É uma das reflexões que buscamos fazer em nosso espetáculo, de uma maneira brincante e contagiante. Acordar para sonhar.

Vimos então o filme “Ponte Para Terabitia”, inspirado na literatura “O Segredo de Terabítia. O filme conta a história de um menino muito tímido e solitário que sofre bullying na escola,até que conhece Lesly uma menina também rejeitada pelos colegas por ser “esquisita”.Com a imaginação de lesly e os desenhos do menino, acabam criando Terabítia, uma terra apenas para eles dois, que com suas imaginações criam um mundo de fantasias, onde conseguem resolver seus problemas da escola e enfrentar seu medos. Com esse filme podemos indentificar um pouco da história de Dorminhoco, um menino que atrvés do seu sonho e seus pensamentos busca a resolução de suas “crises”.

 Na cultura oriental é falado sobre os  véus, a ignorancia, raiva, orgulho, o ciumes, a paixão e o medo. Ao removermos esses véus nos encontramos com a essencia pura de nosso ser,nossa alma.  Em meu ver dorminhoco busca por esse encontro, enfrentando seus medos em cada circunstancia que lhe é dada, reconhecendo seu erros e então removendo esses véus,se tornando um garoto feliz por ser o que é.

Em busca da criança interior...

No inicio do processo, fizemos muitas brincadeiras de criança, pega-pega, esconde-esconde-gato mia, pular corda, pular elástico, bola, ciranda... foi como um resgate, aquela vontade de bater o trinta e um, aquele medo que alguém te ache naquele super esconderijo, a busca pela diversão. A energia da criança que brinca brica e não cansa nuca.

Nesse processo de construção de um espetáculo para Criança, precisamos conhecer a nossa criança interior, ou melhor reconhecer o que já existe dentro de nós. Nos conectar com essa criança é trazer vida ao espetáculo, é se encantar com o mundo, e descobrir o novo, achar graça e vida naquilo que parecia não ter importância.

Nesse processo quero resgatar minha criança e então cuidar dela com todo o amor de que formos capazes de traze-la de volta para nossa vida, para que com ela recuperemos a leveza, a pureza, a capacidade de acreditar, criar, brincar e crescer. A vida sem essa criança torna-se um jardim ressecado e estéril. Falta vida, falta alegria, falta sonhos e falta amor.

Nem sempre é fácil encontrar esse criança, pois é preciso um mergulho  dentro do nosso coração, as vezes não temos contato com a nossa criança por tanto tempo que ela se esconde bem fundo...mas ela está lá, sempre estará esperando por NÓS. Vamos recupera-la para uma vida com mais cores e sabores.

Trabalhar em grupo é uma virtude...

Nesse processo de criação coletiva tenho pensado muito em três palavras,  Humildade, Disciplina e Honestidade.

 Humildade pois não estamos no palco somente por vaidade ou por um ego exacerbado, e sim a serviço de. Humildade para crescer com o grupo e não querer ser melhor que o outro. Humildade para aprender aquilo que achávamos que sabíamos. Disciplina (difíciiiiil, mas não impossível) praticar todos os dias tanto o físico como o intelecto, como um ritual.  Estar presente de corpo e alma em cena. E honestidade comigo mesma, com o grupo e com a obra. A todo o momento, fora ou dentro da cena.

Trabalhar em grupo exige um querer positivo de cada um. É meu primeiro grupo e sinto que tenho muito o que melhorar, trabalhar a cada dia, nos colocar com garra, ter compromisso, delicadeza e respeito mutuo entre o grupo, ser mais paciente e tolerante, ter maturidade e autonomia, um maior posicionamento,  amor pelo trabalho e abertura para ouvir as críticas.

Estou amando essa experiência de grupo. Nem sempre é só harmonia, existem os desentendimentos e discussões, mas acontecem nas melhores famílias.  Temos opiniões diferentes e somos diferentes, cada um é cada um, não precisamos concordar em tudo, apenas nas coisas mais importantes, o que nos une enquanto grupo, o nossos proposito com o teatro e o acreditar nesse ideal. Preservar o que é sagrado, a confiança em cada um do grupo, a sinceridade e o amor um pelo outro.

A criação de um espetáculo tem sido linda e muito importante para o meu desenvolvimento, tem sido importante para minha VIDA. Muitos processos vão se abrindo, muitos sentimentos se aflorando como se fosse um intenso turbilhão, algumas fichas vão caindo, e esse momento deve ser preservado para que realmente possamos crescer enquanto atores e pessoas.

 Estar com o coração aberto e os ouvidos atentos para as perolas que recebemos a cada dia de ensaio. “Estar atenta as preciosidades que a vida nos oferece.” (Leticia Guimarães)

Gratidão é a memoria do coração já dizia uma sábia diretora.

Gratidão a cada um dos abraçadinhos que me envolvem nessa arte e me possibilitam um espaço de sonho. Que possamos crescer juntos nos desenvolver junto e criar juntos, preservando o sagrado nas nossas relações, para que sempre seja maior do que qualquer desentendimento. Que possamos oferecer um ao outro o que temos de melhor, e assim a vida nos retribuirá com o que ela possui de melhor.

Por hora é isso, desculpa falar tanto mas é que preciso colocar tudo pra fora pra então ir organizando tudo dentro de mim.

Mas tem muita estrada pela frente, muito treino, muito estudo, muita prática e muita entrega. Agora começo um estudo mais profundo do personagem Dorminhoco e em breve posto para vocês, fica em baixo um versinho que escrevi, nessa busca pela nossa missão.

A missão é seguir, a missão é sentir só assim vou descobrir que missão devo cumprir. Esse processo quero entender, pra poder me conhecer, entrar no meu coração, Ativar minha emoção tendo plena compreensão do que eu faço com a minha mão nesse mundo tão grandão.

O coração vai bater, um sorriso aparecer e algumas lagrimas vão escorrer. Sim é isso que devo fazer...é isso que eu amo fazer. É o que vim pra fazer. Vida vida vida minha o que posso fazer? Se é isso que devo seguir me ensina então a servir, com carinho e devoção e muito amor no coração. Com  a arte eu quero aprender na arte eu quero viver da arte eu quero compreender. A arte eu quero ser. Vida vida vida minha deixa em mim a arte nascer, vida vida vida minha deixe em mim a arte crescer”

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Inspirações...


“Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. (Raul Seixas)

A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas. 
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo [...]

Manoel de Barros

O Dom de Sonhar
A esperança engana
Mente o sonho
Eu sei.
Que mentiras lindas contei para mim...

Significado
No poema
e nas nuvens
cada qual  descobre
o que deseja ver

Invenção
Inventou uma lua cheia.
Clareia a noite em mim.

Sou outra
Quando sonho,sou outra.
Inauguro-me

 Helena Kolody

Dever de Sonhar 

Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, 
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, 
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. 
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas 
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho 
entre luzes brandas e músicas invisíveis

Fernando Pessoa

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. 
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. 
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. 

Willian Shakespeare

O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.

Adélia Prado

Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. 

Roberto Shinyashiki




O dia da sua criança

Uma mensagem especial para a criança do adulto


                                                                                                            William Rezende Araújo
 Na vida da maioria das pessoas adultas são raros os momentos que foram verdadeiramente bons, alegres, positivos, elevados, cheios de amor e prazer. Esquecemos em algum ponto do passado essa capacidade de sentir de fato, porque nos ensinaram que ser adulto e atingir a maturidade, exige reduzir aquela vibração única e carregada de genuína energia jovial que nos torna espontâneos e que é capaz de iluminar e trazer plenitude à vida em todos os momentos dela. Crescemos e curvamo-nos sob o peso de uma imensa carga de regras, obrigações e preconceitos e enterramos a única coisa verdadeiramente viva em nós que é o tesouro de nossa criança. Mergulhamos então de cabeça, perseguindo outros valores, como: saber, poder, bens materiais e status social sem percebermos que no fundo queremos reencontrar, porém pelos caminhos mais difíceis, aqueles mesmos momentos prazerosos que inundavam a infância e que eram tão fáceis de experienciar sem exigir nenhum esforço. Na luta para ter nós não conseguimos ser e quase nunca encontramos aquela alegria profunda, aquela felicidade inocente e pura, aquela paz suave e repousante e aquela harmonia com o mundo e a vida. Quase todos acabam por se conformar, considerando que esse é o destino de todos e que aqueles bons sentimentos só existem na infância. Mas isto não é verdadeiro de forma alguma! Se você sentiu tantas coisas tão boas então aquilo é real e pode ser resgatado. Tenha certeza de que, não o importa a idade, cada um de nós conserva uma criança escondida no mais profundo do ser clamando para ser ouvida e atendida. Como disse Jung: "em todo adulto espreita uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo e ela representa a mais poderosa e inelutável ânsia em cada ser humano, ou seja, a ânsia de realizar a si próprio" . E que bom que seja assim! Os grandes homens sabiam dessa verdade, seja Jesus ou um Albert Einsten. Eles aprenderam a resgatar a própria criança interior e viviam a vida através dela. "Vinde a mim as criancinhas" não se refere às crianças reais, mas sim as crianças que habitam os adultos. Vinde a mim a pureza, inocência, prazer e alegria de viver que ainda se esconde nesse corpo adulto e adulterado pelo seus valores. Resgate aquelas características pois elas são o único caminho para celebrar a vida e ascender espiritualmente. Vinde a sua criança não contaminada pelo seu adulto.
Se não fossem os sonhos dessas crianças dos grandes realizadores ainda estaríamos nas cavernas! O racional, o adulto, apenas torna real aquilo que nasceu na fantasia da criança interior. Foi ela quem imaginou e sentiu o desejo de andar mais rápido que os animais, de voar como os pássaros, de falar com pessoas distantes e por isso o homem inventou a roda, os veículos, o avião, o telefone, o rádio, a TV... Sem o prodígio da imaginação dessas crianças nada existiria.
Resgatar essa criança interna é, na verdade, arrebentar com as grades da prisões que nós mesmos nos impusemos. É encontrar a única e verdadeira liberdade que é libertar-se de si mesmo e das algemas criadas pelo adulto racional, lógico e sufocante que nos tornamos. O prêmio àqueles que o fizerem é redescobrir o entusiasmo e coragem na vida. É libertar a curiosidade e capacidade de explorar. É saborear com profundidade e emoção cada minuto vivido. É expandir-se e explodir em exuberância. É sentir prazer e alegria. É voltar a ser radiante e criativo, inspirado e inspirador. É aproveitar todo o seu potencial. É irradiar e compartilhar tudo de bom que você é. É sentir de uma maneira palpitante a beleza que é estar vivo. É ser ao mesmo tempo sensível e extremamente forte. É descobrir novas e surpreendentes soluções para velhos problemas. É encontrar a verdadeira fonte da juventude e frescor. É renascer e se renovar a cada dia e é, finalmente, encontrar um sentido para a própria vida.
 E essa criança não é apenas uma lembrança distante de sua história de vida. Ela sempre esteve presente dentro de você, quase sempre adormecida, às vezes escondida, mas está lá, como um ser real que é . No dia da criança, dê o maior presente para a sua própria criança interior, descobrindo-a e oferecendo-lhe atenção, carinho e amor. Escute com atenção o que esta voz tem a lhe dizer, porque o verdadeiro crescimento enquanto ser humano se faz a partir de uma criança positiva e saudável.
 Faça de cada dia de sua vida o dia da sua criança e descubra finalmente o prazer de saborear cada minuto vivido. Solte a sua criança positiva interior porque ela sabe qual é o caminho para você ser feliz, caminho que o status, diplomas, poder e bens materiais jamais levam.